Foto: Rafael Menezes (Diário)
A cidade de Formigueiro, com um pouco mais de 6 mil habitantes e situada na região central do Estado, está em choque diante do caso que envolve a morte de Zilda Correa Bittencourt, 58 anos. A vítima teria sido morta durante um suposto ritual religioso, entre a noite de sexta-feira (9) e a madrugada de sábado (10), dentro do cemitério da Colônia Antão Faria, no interior do município, a 15 km da cidade.
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Além de agredida, Zilda teve o corpo amarrado a uma cruz e não resistiu aos ferimentos provocados no ato para livrá-la de “duas entidades que incorporavam nela”.
Na manhã desta segunda-feira (12), a reportagem do Bei ouviu moradores sobre o crime, que envolve circunstâncias ainda nebulosas. O clima na cidade é de consternação, com moradores perplexos diante da brutalidade do homicídio. Quatro pessoas estão presas suspeitas do crime. Entre elas, está um artista de circo natural de Cachoeira do Sul, Francisco Carlos da Rosa Guedes, 65 anos, o Chico Guedes, que se tornou pai de santo em uma comunidade quilombola de Formigueiro.
Em rodas de conversa, a comunidade local não foge ao tema que se tornou o centro das atenções. No entanto, ao serem questionados e convidados a se pronunciarem, os moradores mostram medo em falar, justificando seus receios pelo fato de Formigueiro ser uma cidade pequena, onde todos se conhecem e as relações são próximas.
O enfermeiro aposentado Sadi Bittencourt, 65 anos, expressou sua surpresa diante do acontecimento, destacando que nunca presenciou algo parecido em anos de profissão. Ele tem esperança de que esse seja o último caso de tal natureza no município, ressaltando a necessidade de esclarecimento e justiça diante do ocorrido.
O mistério em torno da morte de Zilda continua a intrigar a população local, e as autoridades estão conduzindo uma investigação minuciosa para esclarecer os detalhes desse trágico episódio que abalou a tranquilidade da cidade de Formigueiro.
Conforme a ocorrência policial, o marido e o filho de Zilda teriam procurado os “pai de santo” para fazer um ritual, pois, segundo eles, a vítima sofria há mais de 20 anos com “duas entidades que incorporavam nela”. A mulher teria viajado de Restinga Sêca para Formigueiro, na manhã da última sexta-feira, para a realização do ato.
No ritual, realizado já no cemitério, Zilda foi torturada. Ela teria sido agredida fisicamente com socos, tapas, pisões na cabeça, golpeada com varas verdes em diversas partes do seu corpo, tendo sua cabeça lançada contra o solo por diversas vezes. Por fim, os responsáveis pelo suposto ritual religioso teriam amarrado Zilda à principal cruz do cemitério, onde a população costuma acender velas em memória dos entes sepultados no local.
Toda a cena teria sido presenciada pelo marido e o filho, que só perceberam a gravidade do caso após a crucificação. Todos os envolvidos teriam entrado em um carro para levar a vítima até o hospital de Formigueiro, onde ela já chegou morta.
No caminho até o hospital, o carro foi abordado por uma viatura, onde estavam dois policiais militares que haviam sido chamados para o local do crime. Eles acabaram encontrando os envolvidos no caminho. Os PMs ficaram surpresos ao ver a calma como os supostos responsáveis pelo ritual encaravam a situação.
– O que chamou a atenção dos policiais foi a tranquilidade dos religiosos. Não demonstraram nervosismo. Aparentemente, demonstraram que não teriam feito nada de errado. Não aparentavam ter consciência da gravidade do ato que teriam praticado – conta o comandante da Brigada Militar de Formigueiro, tenente Ricardo Pinto.
Depois de falar com os envolvidos, os PMs escoltaram o carro com a vítima até o hospital.
Investigação
Após a morte de Zilda Bittencourt, novos desenvolvimentos surgiram na investigação, resultando na prisão de quatro suspeitos envolvidos no caso. Na noite do crime, os irmãos Larry Chaves Brum e Nayana Rodrigues Brum foram detidos em flagrante pelas autoridades.
Na manhã de domingo (11), o líder quilombola Jubal dos Santos Brum, 57 anos, pai de Larry e Nayana, apresentou-se na delegacia de polícia, acompanhado de uma advogada. O pai de santo Francisco Guedes foi capturado na residência de Jubal, localizada no Quilombo Passo dos Maia, local onde foi acolhido ao ir morar no município. Já o marido e o filho de Zilda foram ouvidos como testemunhas do caso.
Para a defesa de Jubal e dos filhos, os três não foram responsáveis pela morte de Zilda e são inocentes. Contudo, as advogadas que defendem a família apontam a responsabilidade para Chico Guedes. Até o momento, o pai de santo não apresentou advogado de defesa.
A investigação está a cargo da delegada Carla Dolores Castro de Almeida, de Formigueiro. Mais detalhes não são divulgados. O corpo de Zilda Bittencout foi sepultado no início da noite de sábado no Cemitério de Bom Retiro, em Restinga Sêca.
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